QUE BOM TER VOCÊ AQUI

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Que bom ter você aqui....

domingo, 12 de julho de 2009

"SEU" ALECINDO


No lado oeste de São Francisco do Sul, restaurado pelo Governo federal e preservado pelos habitantes do local, o mar convida para uma reflexão, a paisagem convida para “sair do ar” e o momento mais lindo do dia, é o por do sol.
E por ali passando, após cansativa viagem, entrei na pousada, tomei um banho, coloquei uma bermuda, apanhei o cigarro, andei pela calçada novinha e sentei em um banquinho, de frente para o mar e as montanhas ao fundo, com aquele espetáculo do por do sol começando a acontecer.
Não tem palavras para descrever, ou se tem, ainda não as achei, mas vale a pena.
Um silêncio proposital, pouca gente na rua e ao meu lado, o “Seu Alecindo”, um pescador daquele lugar, que veio do nordeste em 1974 e por ali ficou, constituiu família e estava de cócoras, ao lado do banco, preparando um palheiro com categoria.
Sentei, olhei, nada disse. Acendi meu cigarro e ele falou, exatamente como vou transcrever:”ba tarde seu doto!” eu respondi boa tarde, tudo bem?
“O sinhô é do Paraná, pelo jeito”. Falei que era e perguntei como ele sabia.
“Educado assim, só memo de lá, pois aqui pras banda de cá o povo se conhece e fala muito pouco”!
Perguntei se ele não queria sentar no banco, ele me olhou com um ar de questionamento, lambeu o palheiro e disse: “Quero não....desse jeito eu levei a vida na hora do descanso.”
Pitei, soltei a fumaça e fiquei vendo o sol caindo. Seu Alecindo me olha, e pergunta: “ o que o dotô tá fazendo aqui neste lugar? Não tamo em época de férias.”
Eu disse pra ele que vim matar a saudade de momentos felizes e procurar um lugar para morar, ver como é que era, como era o custo de vida, coisas assim.
Ele olhou de canto de olho e disse: “Mas o doto vai faze o quê aqui?” Eu disse que não iria fazer nada, que havia conseguido me aposentar e queria paz, tranqüilidade e silêncio. Só isso.
Seu Alecindo, calmamente me olhou e disse: “Mas sua voz ta tão presa, o senhô ta meio macambúzio, to achanu”. Eu disse que era o momento que eu vivia, mas que ia passar. Fazia parte do aprendizado da vida. Ele olhou pro mar, olhar perdido na última linha da água com o sol que já partia de vez e disse, tranquilamente.
“Então seu doto, aqui é seu lugá. O senhô pode vir que tem toda esta água aí na frente pro senhô afoga suas mágoa. E muito prazer. Meu nome é Alecindo e minha barca fica ali, pertinho da curva. Inté logo”. Levantou, bateu a cinza do palheiro com o minguinho, foi caminhando lentamente e sumiu na rua recuperada.
Fiquei ali vendo o sol partir, fumei mais um cigarro e vi que ali sim,
seria um bom lugar.
Tinha toda aquela água para eu afogar minhas mágoas.
De repente, é pra lá que eu vou.
Se Deus quiser.

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