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quarta-feira, 22 de julho de 2009

"SANDRA"

Chamemos de “Sandra”. A conheci pelos idos de 1989,
numa noitada de clientes, fornecedores e publicitários,
em uma casa “suspeita” na hora da saideira, quando você
não aguenta mais e o uísque começa a vazar pela orelha.
Mas, vá lá.
Entre amigos, bebidinhas, papos e muita risada, num

ambiente que estava muito agradável, não só pelas
“damas da noite”, como também pelo clima de festa,
final de ano, bons resultados, coisas assim.
Não vou citar nomes de bons companheiros para não

comprometer a ninguém, ainda mais com alguns que
nunca falam aonde vão e se vão, também não falam,
deu para entender?
Pois bem. Num canto da sala conheci “Sandra”, natural

de Ribeirão Preto, 23 anos, uma escultura que chamamos
de mulher, ou que eu sempre chamo de “égua de general” e
não precisa explicar por que.
Papo foi, papo veio, deixei claro que o negócio daquela

noite seria só papo, visto o alto consumo de uísque e a
falta momentânea de grana. ( Aliás, você ir a um lugar
destes sem grana, é melhor não ir. Passa vontade, bebe
pouco e fica puto, ainda por cima).
Mas “Sandra” me dizia da vida dela, como chegou a

Curitiba em busca de emprego, estagiou em um escritório de advocacia, gente famosa, sofreu muito, pois ninguém
queria outra coisa a não ser levá-la para jantar, sair e
coisas que acontecem depois. Ela resistiu ao máximo,
mas um dia (sempre tem um dia), ela não agüentou e foi
para a cama com um dos sócios do escritório, casado,
pai de família, aquelas coisas. Mas foi. E acabou indo
mais vezes, pois pressentiu que o negócio poderia valer a
pena, em termos financeiros, claro.
Ainda menina de tudo, apenas 20 anos, ficou um tempo

com o “amante” que bancou suas contas e possibilitou
uma certa ascensão no mundo de Curitiba.
Passado este tempo, veio o desemprego e a falta de grana.

Daí, uma vizinha convidou-a para ir tomar um “drink” com
madame Sônia, uma das melhores cafetinas de Curitiba, anos atrás.
Ela foi, conversou, gostou e ficou por lá, morando ainda

na kitinete da Alameda Cabral, mas freqüentando diariamente
a casa de Madame Sônia.
Passado um tempo, clientes começaram a procurar muito

por ela, ainda novidade no pedaço.
Cachê mais alto devido ao corpo de “égua de general”, ela

foi dando seus passos e seus pulos. Fez clientela famosa e,
no auge, a conheci.
Nada de errado com a postura da menina, falava bem, tinha

bons modos, parecia que tinha tomado chá em colher de prata quando menina. A “Sandra” era um sucesso.
Passados dois anos, eis que recebo em meu escritório a visita

da “Sandra”. Alinhada, linda, bem vestida, mantendo o
apelido de “égua de general”, sentou-se, bebeu um café,
acendeu um cigarro, tirou um convite da bolsa e me entregou, dizendo que na qualidade de bom amigo, ela gostaria muito
que eu me fizesse presente em seu casamento.
Casamento? Sim, casamento. E com um industrial italiano que

estava de passagem por Curitiba, foi na casa de Sônia e se
encantou por ela.
Quem não se encantaria? Cheirosa, gostosa, astuta e puta.

Só que ponha puta nisso, mas com classe, com maestria,
como ela sempre dizia: faço o homem gemer sem sentir dor.
Óia só........
E fui ao casamento dela, num sábado, meio dia, na chácara

de um amigo do italiano. Centenas de convidados, gente
conhecida e mais de vinte putas ao redor. Coisas de Curitiba.
No fim da festa, você já não sabia mais quem era e quem não
era puta. Virou tudo uma festa só.
“Sandra” casou, foi morar na Itália e, dia desses, esteve em

Curitiba a passeio, com o marido e seus três filhos, oriundos
do “amor” pelo italiano. Mora em Milão, tem uma vida nababesca, ostenta mais do que deveria, fala italiano perfeitamente,
continua linda, só que não é mais a “égua de general”
que foi um dia.
E ela, de origem humilde de Ribeirão Preto, hoje dá risada

e segue a vida. Com Louis Vitton original e tudo o mais que tem direito.
Me confidenciou algumas aprontadas em solo europeu,

mas como ela mesma disse: lá ninguém me conhece e sempre que posso, escapo aqui e ali. Mas sem compromissos e sem envolvimentos.Como é o certo, segundo ela. Este é o
código da puta, disse. Sem envolvimentos.
Eu disse pra ela que um tio meu que mora em Guaruva, tem

uma frase que diz: “uma vez puta, sempre puta”! Ela riu e
concordou, só que com um adendo: “com ar de santa e de
madame, por favor”.
E “Sandra” seguiu de volta para Itália, feliz da vida, com o

italiano ao lado, apaixonado e feliz com os filhos e a família.
Mandou email estes dias dizendo que chegou bem e que me

espera qualquer dia em Milão para um almoço especial.
Disse pra ela que não posso ir tão cedo e não gosto muito

de almoços com putas. É meio traumatizante.
Prefiro o jantar, “Sandra”.
Um exemplo do que a vida faz com pessoas.

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