QUE BOM TER VOCÊ AQUI
Quem escreve, raramente escreve somente para si próprio.
Assim, espero que você leia, goste, curta, comente, opine.
E tem de tudo: de receitas a lamentos; de músicas à frases: de textos longos a objetivos.
Que bom ter você aqui....
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E tem de tudo: de receitas a lamentos; de músicas à frases: de textos longos a objetivos.
Que bom ter você aqui....
quarta-feira, 22 de julho de 2009
NA VARANDA
Sentado na varanda da casa na Vila Lindóia, “seu” Adolfo lia um romance de Machado de Assis, com o cachimbo preso no canto da boca.
Manhã gostosa, brisa leve, sol fraco, como sempre aparece em meados de outubro.
Lá dentro, Dona Isaura já dava início aos preparativos para o almoço, gerando um cheirinho gostoso da comidinha feita em casa.
Em meio à leitura, chega Lucinha, neta do “seu “ Adolfo e pergunta: “Vô, o que é vagabunda?” Espantado com a pergunta vinda de uma garotinha de 13 anos, ele simplesmente responde: “É aquela que não trabalha, minha neta”. Ela ficou olhando para o avô, colocou o dedo na boca, pensativa e disse: “ Não, não foi isso que eu entendi o tio falando da tia”......Ele olha mais interessado na conversa e pergunta: “O que seu tio falou da sua tia?” Ela senta no colo dele e diz: “O tio falou que ela é uma vagabunda e por isso ele se afastou dela. E falou bem devagar o va-ga-bun-da.” “Seu “ Adolfo olhou preocupado e disse que era pra ela não pensar nisso, mas ela insistiu na pergunta, novamente. Ele pensou, pensou, lembrou de todas as formas de explicar sem ofender e disse para a menina: “Lucinha. Vagabunda é a pessoa que não trabalha, mas tem gente que também chama de vagabunda a pessoa que não tem princípios, não tem moral, não se comporta adequadamente, entendeu?” Ela fez que não com a cabeça.
Adolfo continuou: vagabunda é a mulher que
vagabundeia ou tem vida errante, entendeu?
Quando a mulher não tem postura e nem sabe o que fazer, ela cai na vida e passa a ter uma vida errante, cheia de erros, mas ela não se incomoda, se acostuma e passa a viver deste jeito, entendeu?” Lucinha faz que sim com a cabeça e diz para o avô: “ Tadinha da tia Helena.....ela era tão meiga e tão carinhosa...porque o tio disse que ela é uma vagabunda? Então ela fez coisa errada e o tio ficou sabendo?” “Seu” Adolfo já suando e meio sem jeito diz: “Isso, minha neta. Mas só que não é assunto para você ficar falando. Isto é coisa de gente grande. Esquece isto e vai brincar. Logo logo tem almoço da vovó.”
Lucinha pulou do colo do avô e foi para o jardim brincar com as bonecas. Ele, com o olhar ao longe, ficou pensando em toda a conversa e em Helena, meiga e delicada, quase um ar angelical, agora chamada de vagabunda. Uma acusação pesada, mas real, pelo que ele sabia. Difícil seria explicar os porquês para uma netinha de 13 anos, esperta e curiosa. Sentou-se novamente na posição de leitura, retomou o cachimbo e não conseguiu mais se concentrar na leitura. Com a brisa da manhã, ficou olhando para um ponto no céu e revendo a vida de Helena, aquela meiga mulher que conquistou a todos e depois, num ato que parecia arquivado, caiu na vida.
Pobre Helena.
Cometeu erros básicos e foi descoberta. Agora, vagando por cantos conhecidos e com pessoas que ela não conhecia, assumira a postura de vagal-chic, como ele ouviu dizer numa reunião de família.
Com o olhar ainda longe, “seu” Adolfo apanhou o livro, fechou e levantou-se da cadeira da varanda. Era demais para ele tentar ler com um comentário daqueles. Mas era a realidade, pensou ele.
E foi para a cozinha, beber um copo de água e esquecer que, um dia, Helena disse para ele que o tio, era o homem da vida dela.
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