Julho de 1972.
Na casa da Réco(Regina Marder), reúnem-se amigos de colégio
e de convivência para programar uma ida a São Paulo.
Detalhes daqui, detalhe dali, tudo certo.
Iremos de leito, todos juntos e em lá chegando, a distribuição começa. Marco Bassetti e eu vamos para a casa do tio
do Armando Queiroz. Regina e Silvia vão para a casa da avó.
Wânia, a namorada daquela época, vai para a casa da avó dela.
E Renato Miró, não sei para onde foi, mas sei que estava lá.
Na rodoviária, táxis com destinos diferentes, mas com endereços anotados para o encontro na parte da tarde.
Armando, Marco e eu no táxi, seguindo para a casa do tio dele.
Em lá chegando, uma recepção amigável, querida, calorosa.
O apartamento não passava de 50 metros, mas comecei a ver
onde iríamos dormir? Armando era o sobrinho, então a cama de solteiro do segundo e último quarto, seria dele. Mas eu e o Marco?
Deixa pra lá. Tudo se ajeita. Enquanto ficamos no apartamento,
o tio do Armando fumou 12 cigarros e bebeu 24 cafezinhos,
sentado na janela da sala.
À tarde, fomos para a casa da Vó Silvia, figura inesquecível na
nossa fase de adolescência e crescimento.
Recebidos com abraços, beijos, carinho e muita alegria,
sentamos na sala da entrada, com sofás e poltronas conservadas, cristaleira com badulaques antigos, mesa de refeição daquelas de madeira pesada, bonita e cadeiras com encosto alto.
Na poltrona da sala, Exmo Sr Chico Cruz, avô, de bonezinho
de lã, bengalinha e uma simpatia que era só dele. Um homem agradável de conversar, apesar da dificuldade pela idade e pela doença. Mas era companheiro.
Na cozinha, Eudóxia, a emprega, dava o tom. Mas Vó Silvia
era a comandante. Iríamos jantar um cuzcuz de camarão
(achei melhor grafar com z...endente?).
Chegada a hora do jantar, uma delícia de prato.
Uma delícia o papo, a conversa, as risadas, o ambiente.
Cigarrinhos na mão, lá ficamos até perto de meia noite.
Aí começou a história. E que história.
Táxi para ir embora em plena Avenida Angélica.
Um Volks(também chamado de fusca) sem o banco da frente. Conclusão: Armando e Marco foram sentados e eu de cócoras
no espaço do banco.
Na ida, uma blitz. Apresentação de documentos, aquelas coisas.
E eu, o único documento que portava era a carteira de estudante do Colégio Medianeira. Mas foi. Chegamos na casa do tio. Todos dormindo, silêncio, friozinho. Colchonetes preparados.
Marco no sofá e eu, embaixo do piano, naquele espaço abaixo do teclado, ao lado dos pedais. Vai. Tudo bem.
Silêncio, soninho, calmaria. De repente, um acesso de tosse
do tio do Armando. Marco só olhou lá do sofá e eu ali, quieto.
A claridade da rua iluminava nossos rostos de surpresos.
Dormimos lá pelas 3 da manhã. Às sete, o tio acordou, fez
café e já acendeu o cigarro dele. Você não imagina o que é
acordar com a fumaça do cigarro entrando no seu nariz,
mesmo que você fume. E logo cedo, para quem estava em férias. Depois de um banho milimetrado (já tomou? Só cabe
você e a água do chuveiro), saímos.
No almoço, Marco e eu decidimos mudar de casa.
Ele tinha um tio lá em SP, na Vila Mariana.
E para lá fomos, depois de um telefonema. Agradecemos
os familiares do Armando e partimos.
Chegamos na casa do tio do Marco. Outro suspense.
Meio antiga, mal assombrada, uma casarão da Vila Mariana
com um homem solitário morando nela, tendo a companhia de uma empregada que fazia os ares de dona de casa. Ele era viúvo,
mas pelos quadros na casa, eterno apaixonado pela ex.
O tio, muito querido e simpático, sofria de alcoolismo, mas em
nada isto nos dizia respeito. Acomodamo-nos na parte de cima da casa, um quarto com duas camas de solteiro, guarda-roupa
entalhado e antigo, uma caixa de brinquedos do neto do tio do
Marco e uma janela para os fundos de outra casa, onde o
banheiro era rente com a parede.
Tudo muito bom, tudo legal.
Fomos para a casa da Vó Silvia, saímos, passeamos, comemos sanduíches de monte, rimos demais, a Wânia desmaiou devido à cólica, Réco sabia quais ônibus tomar e assim passamos o dia.
À noite, lanche na casa da vó e depois, rumo para a casa do
tio do Marco. Começa a aventura. E ponha aventura nisso.
Ao entrarmos, o homem e estava no escuro da sala, com uma
chave inglesa na mão. Olhamos e não entendemos nada.
A casa no escuro, a chave inglesa, o homem no sofá, o que era aquilo?
Daí ele nos disse que estava tentando abrir uma garrafa de Cinzano.
Pronto. Começou a aventura. Meio de pileque, o tio apanhou
a garrafa que nós abrimos e o copo. Sentou-se na poltrona
da sala, já com a luz acesa e tomamos um copinho com ele.
Mas ele era profissional. A postura era perfeita, mas a língua já enrolava a cada dez palavras.
Subimos para nosso quarto e começamos a observar o que ali
existia.
Uma coleção de carrinhos Matchbox nos chamou a atenção.
E Marco eu decidimos “brincar’ de carrinho lá pelas duas da manhã. Muitas risadas pela ridicularidade da cena. O banheiro do vizinho parecia que era dentro do nosso quarto. Sons estranhos para uma primeira noite de sono. E muito sono. Até corneta tocamos na
janela, de madrugada. Coisas de guris. Mas guris sadios.
Apagamos a luz, dormimos. Uma hora depois, acordamos com
uma barulheira que vinha do corredor dos quartos.
Abrimos a porta, já encagaçados e vimos o tio do Marco
discursando, falando, ainda com a garrafa de Cinzano na mão.
Deu certo medo, pois ele falou algumas coisas da família que
eu não entendi nada. E falava em voz alta, a la
Odorico Paraguassú, o personagem da novela de Dias Gomes,
o Bem Amado.
Mesmo assim dormimos.
Dia seguinte, cedo, a empregada preparou um café, tomamos e zupt, saímos dali.
Na casa da vó encontramos com todos e fomos para a Rua Augusta, na época, a moda da capital paulista. E era muito legal, mesmo.
Loja em loja, lanchonete em lanchonete, demos muitas risadas novamente. Repararam como jovem só ri?
Óbvio, pois se preocupar com o quê? Não pagava imposto,
não declarava imposto, vivia de mesada, tinha a vida na flauta, se preocupar com o quê?
Então, ríamos. E eu, atrás de LPs importados, novidades, lançamentos. Foi nesta viagem que comprei, em 1972 o LP do
Todd Rundgren, que meu amigo Eduy Ferro “guardou” com ele
até hoje, se bem que me trouxe o CD de Nova York, do mesmo LP. Dá-lhe Eduy!!
À noite, fui ao ginásio do Ibirapuera com mais uma amiga nossa,
a Eneide, assistir Brasil e Estados Unidos, no basquete.
Final do torneio não sei do quê.
Lotadaço, com Hélio Rubens sendo a estrela do time e Menon,
a mão de ouro, acabando com o jogo.
Ao sairmos, ainda passamos num hotel na esquina da Rua
Timbiras com Guaianazes, onde a Eneide estava. E vimos um
ensaio de uma cantora chamada Maisa. De quebra.
Dia seguinte, almoço na casa da vó Silvia, novamente um
show de iguarias e temperos, risadas e uma deliciosa sobremesa.
Na casa do tio, emoções todas as noites, inclusive temperando
salada de alface com Campari. Já experimentaram? Uma “delícia”...mas fazer o quê?
Armando comentava do tio, o fumante cafezalístico e nós ríamos muito.
Aliás, a viagem foi sensacional também por isso: rimos.
E nos unimos. Tanto é que até hoje, somos companheiros,
cada qual com sua vida, mas quando nos encontramos,
parece que não temos as nossas vidas. É aquela daquela viagem, daqueles tempos.
A amizade e o respeito comandam o relacionamento, além do carinho e de recordações que nos permitem contas histórias e
ter saudades da Vó Silvia, uma figura querida, que mesmo morando em Curitiba, anos depois, nos acolheu sempre com um sorriso
e um abraço.
Ficam as imagens, ficam as lembranças, os locais, o Largo do Arouche, Santa Cecília, Avenida Angélica, a Rua Augusta da
época, enfim, tudo que nos marcou muito aos 16 anos de quase todos. Eu sempre era o caçula e todos eram um pouco mais
velhos do que eu, inclusive a Wânia.
Valeu, foram bons momentos, foi um bom tempo.
Se hoje repetíssemos, precisaríamos juntar todos novamente
para que fosse tão bom quanto foi em 1972. E foi muito bom.
Abraço a todos.
De coração.
Constantino Kotzias Comninos, vc me esqueceu nisso!!!!tenho certeza que foi pq eu era( e ainda sou ) muito pequenina!!
ResponderExcluirNão viajei com vcs - eu passava todas minhas férias ou em Sampa na casa da vó Escolástica que morava na Augusta ou em Barretos , mas marcamos sim de irmos a vários lugares , inclusive na casa da vó da Reco , minha amiga ,literalmente, de berço.
Passar a tarde na Augusta , as meninas procurando a tal saia colorida de couro , um must da época.
Você louco por disco de tais ou outros tais, na galeria Ouro Preto ou Ouro Fino ????falta memória.
Comermos no Frevinho , ali na esquina com a Oscar Freire e lembro que alguns foram no apto de minha vó , o que mais lembro foi do Marquinho e ela falar que ele era lindoooo!!!
Fomos ao jogo tbémmm, e ver o ginásio lotado foi louco.
No ano seguinte eu acho que estudei com a Eneide no Sagrado.
Uma delicia ler , mas ..se vcs marcarem não me esqueçam,ok!!!!bjss
Silvinha
Lembro bem