QUE BOM TER VOCÊ AQUI

Quem escreve, raramente escreve somente para si próprio.
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Que bom ter você aqui....

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

FICA PRA AMANHÃ

Ela chegou em casa cansada, meio de pilequinho, já tirando a sandália
preta na entrada da sala. A luz do abajour iluminava a sala e
o silêncio mostrava que todos já dormiam. Passava das duas da
manhã e ela sentou-se no sofá para repensar a noitada.
Havia sido ruim.
Não conseguira nada com ninguém e pouco menos satisfazer sua
necessidade de sexo. Mas não tinha problema.
Amanhã seria outro dia. Olhou-se no espelho e disse para ela mesma:
gostosa assim, quem não há de querer?
Ao levantar do sofá, passou na cozinha e apanhou um copo d'água gelado.
A cabeça começava a doer. Quem manda beber sem ter experiência?
Ao sair da cozinha, viu sua filha em pé na porta do corredor, de
camisola e com o rosto inchado de tanto chorar.
Ela surpreendeu-se com a cena, tão rara de acontecer. Ela saía pra
lá e pra cá e nunca viu a filha acordada nas horas em que chegava.
Ela abraçou a filha e perguntou se havia algo errado.
A menina, ainda adolescente, chorava sem parar.
Ela sentou-se com a filha no sofá e agradando os cabelos dela,
ouviu a frase que curou o porre e passou o mal estar: mãe, estou grávida.
Ela perdeu a fala, tremeu o joelho, caiu o mundo, escureceu a visão.
Você está o quê?????
A filha repetiu, soluçando silenciosamente.
Ela levantou-se, andou pela sala, abriu a janela - precisava de ar -
abriu a blusa preta,- precisava de espaço-, olhou para a filha,
passou a mão nos cabelos já mais longos, sentou-se novamente,
respirou fundo, abraçou a filha e disse: como isto aconteceu?
Você não sabia se cuidar? Não falei tanto?
A filha, sem nada dizer, apenas disse que já estava de um
mês e que havia feito a comprovação naquela tarde, através de
um exame num laboratório de um amigo do pai do namorado.
Ela sentou-se, pensou, pensou, pensou no que ia dizer e levantou.
Disse para a filha ir se deitar e não ir para aula no dia seguinte que
elas conversariam.
No quarto, meio atordoada pela bebida e pela notícia, olhou para
o espelho e viu que perdera o glamour da chegada.
Sentada na cama, procurou um apoio, um alguém, uma ajuda, uma
pessoa que pudesse falar, ouvir, aconselhar ou sei lá o quê.
Nada.
Ela estava só.
Ao olhar para o teto, viu que Deus já não estava tão mais
presente em sua vida quanto antigamente.
E ela chorou.
Chorou e dormiu.
No dia seguinte ela veria o que fazer.
Com a situação e com a filha.
Mas só no dia seguinte.
Naquele, suas energias haviam ido por água abaixo.
E assim terminou mais um dia.
Frustrada pela noite, revoltada com palpites, assustada com
a notícia da filha.
E agora?
Amanhã ela veria.
Era urgente, mas ficaria para amanhã.
E ficou.

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