Que num final de tarde, sentado na soleira da porta do barraco no morro,
o grande Cartola fumava um cigarrinho quando sua filha de 15 anos, chegou.
Arrumou uma sacolinha e disse para o pai que estava indo embora.
Ia viver com o "negão", aquele que era namorado dela.
Cartola, emocionado, sentou-se com a filha no sofazinho da sala e
disse para ela as palavras que estão abaixo.
Não adiantou.
A filha resolveu ir. E foi.
E Cartola, como sempre fazia, sentou-se com o violão, papel e caneta
e fez a música aqui transcrita para a filha.
Uma obra de arte, que entendendo-se a história, torna a música
ainda mais bonita.
O MUNDO É UM MOINHO
Cartola.
"Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
em cada esquina cai um pouco tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
Preste atenção o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés"
De tirar o chapéu para o Cartola.
Mesmo.
E tem gente, infelizmente, que tem filhas nesta idade e que precisariam
ouvir a música. Ou ler o texto.
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