A tarde corria agitada na agência. Aliás, como sempre.
Quem disser que tarde em agência é tranqüila, tem algo errado.
Parece que a correria faz parte desta profissão maravilhosa que é
ser publicitário.
Desde o início, ainda tateando, você sente que está sendo fisgado.
E, sem querer, se deixa ser fisgado.
A tarde corria no ritmo normal de sempre. Clientes ligando, criação a mil,
chega o atendimento e me diz: temos reunião no cliente x.
Preparamos as agendas, blocos de anotações e partimos.
Longe pra diabo, mas chegamos.
Em lá chegando, a titular do atendimento e eu sentamos na sala do cliente.
Um diretor, o cliente e nós.
Tomada de briefing.
O cliente deixa claro que ele quer uma campanha diferente e estava disposto a investir.
Anotamos tudo, fazemos uma série de perguntas, pois mesmo conhecendo o
cliente como conhecíamos, sempre é bom esclarecer dúvidas, mas na hora do briefing. Isto evita de você passar o briefing com erros ou com falhas.
Anotado, discutido e analisado, o cliente queria uma campanha
“em torno do carinho” dele para com seus fregueses.
Mole para nós, pensei eu. No caminho de volta, ainda falei com a atendimento
que seria uma bela campanha. Emotiva, antes de tudo.
Chegamos na agência, ela montou o PIT(Pedido Interno de Trabalho)
dei uma revisada, acrescentei algumas coisinhas de detalhes e foi para a criação. Cópia para mídia preparar uma bela mídia.
Cinco dias depois, conforme o prazo marcado, fomos apresentar a campanha.
Layouts de primeira linha, textos precisos e criativos, emoção à flor
da pele, eu fazendo a locução com voz de locutor, apresentando peça por peça,
tudo impecável mesmo. Senti que o cliente só olhava e apreciava tudo, não
mexendo um músculo da face.
Na agência, a expectativa era grande, a espera pelo retorno era monstruosa.
Campanha impecável, digna de prêmios. Carinho era o tema.
Terminada a apresentação, o cliente calmamente nos olha e diz:
“ muito bonita a campanha, mas não foi isso que pedi.”
Nos olhamos, abrimos a agenda na tomada do briefing e ele nos olhou mais
sério e com aquele sotaque italiano, disse: “quero uma campanha do carinho,
este onde os clientes colocam as compras.”
Cai o pano.
Não precisa contar o fim da história.
Taí a Márcia Murara Nauiack para contar o resto.
O cliente e a agência ficam em segredo para não entregar na totalidade
quem era quem.
Mas valeu a experiência.
Carinho pode ser manifestação sentimental como pode ser o carrinho de
colocar as compras.
Pode? Pode....
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