Acordei saudoso.
Não saudosista, mas saudoso.
Acordei com vontade de querer de volta.
Ter de novo, ser de novo, viver de novo.
Mas, nem tudo é possível.
Aliás, quase tudo o que me deu vontade, já passou.
Uma vontade de “quero de volta”, entendem?
Quero de volta meu piano, com quem curti momentos
exclusivos que me permitiram sonhar ainda mais na vida.
Quero de volta minha mãe no sofá da sala, da casa da
Benjamin Constant, onde tomávamos chá ou uma cerveja gelada
e colocávamos as idéias no lugar.
Quero de volta meu quarto de solteiro, recheado de fotos
da Bruna Lombardi, a paixão platônica de uma adolescência
cheia de paixões.
Quero de volta meus LPS, onde a cada faixa, uma emoção se renovava.
Quero de volta meus amigos de recreio, naquelas manhãs frias do
ginásio, do científico, do Medianeira.
Quero de volta uma boa aula de literatura com Leopoldo Scherner, na PUC.
Quero de volta as costelas do Caça e Pesca, com Alceu Lobo, eu e Henrique
Phelps todas as terças-feiras. Era muito bom e matávamos aula na faculdade
para comer uma boa costela.
Quero de volta a PUC ainda no início, onde o carro ficava na lama e a
cantina era ruim pra cassete, mas vivíamos lá.
Quero de volta o beijo demorado da namorada carioca, silencioso,
gostoso, incentivador de sonhos maiores que não podíamos ter, naquela época.
Quero de volta meu Chevette branco, com Mistsubishi no painel e
rodas Scorro polidas. E minhas fitas K-7, especialmente gravadas para
qualquer ocasião.
Quero de volta a boatinha da Hípica, todas as sextas-feiras, bons
momentos, grandes cenas, boas companhias.
Quero de volta a boatinha do Sírio Libanês, onde eu fui DJ algumas
vezes e onde vivi momentos sensacionais e bem acompanhado.
Quero de volta a primeira ida à Confeitaria Cometa, tomar cerveja e
comer pernil com verde, saindo de lá somente à meia noite e indo a
pé para casa.
Quero de volta um jantar no Pahy, um carneiro numa noite de frio, onde
minha vida alterou-se por completo.
Quero de volta a Festa da Vodka, em Guarapuava, onde o porre foi lindo,
mas a festa foi mais. Obrigado, Ro.
Saudoso, sim. Triste, não.
Quero de volta uma viagem a Foz do Iguaçu, especial e bonita,
trabalhando em um congresso no hotel Mercury. Um abraço para a baiana.
Quero de volta meu barco de Bombinhas, com quem cruzei mares difíceis,
superei momentos não imaginados, desabafei frases particulares.
Um barquinho vermelho, que suportava bem todos os golpes do oceano
que era a minha vida.
Quero de volta meu relógio de Golf, bonitinho, simples, perfeito,
lindo, presenteado em um aniversário, com certo amor pelo meio.
Quero de volta minha eleição de prefeito em Itaparica, minhas
risadas à toa bebendo água de côco com uísque, vendo a Tita
trocar de roupa para ser a bandeira da ilha e eu, prefeito, desfraldando
a bandeira.
Quero de volta meus momentos em Guaratuba, esta praia que não me
sai da cabeça, para onde devo ir brevemente, morar, viver, escrever, sonhar,
ter mais paz ainda.
Quero de volta os lanchinhos de final de tarde, cafés coloniais da cidade,
sorrisos em volta, mãos dadas na mesa, torta de limão com uma pitada de amor.
Quero de volta bilhetes românticos, escritos a lápis, impressos em
mimeógrafos, que traduziam lindos sentimentos de uma adolescência agitada.
Quero de volta a saída do Inter, atrás do Guaíra, onde fiz e desfiz centenas
de coisas, algumas até indevidas, mas não proibidas.
Quero de volta os churrascos em minha casa, na churrasqueira mais “torta”
do mundo, mas que eram cercados de alegria, festa, risadas e músicas que somente uniam, jamais separavam.
Quero de volta um bolero dançado a convite, um rosto colado e tranqüilo,
um par de pernas que flutuavam no piso, um vestido preto que envolvia um belo corpo.
Quero de volta momentos da madrugada no Bar do Nilo, a Leninha sentada
no palquinho, cantando somente músicas do Roberto Carlos. Que belo momento, que bela madrugada, que bela cena.
Quero de volta o abraço do Ula Ula, do Veio, do Marco Bassetti, do Baggio,
do Paulinho, do Enio, do Heliomar, do Werner, do Ciro, do Paulo Chaves, do Rodrigues, do Norberto Castilho, do Edson, do Marco Heller, do Teigão do Cacimba, do Simão do Mangiatto Bene, da tia Glaci de Guarapuava, do Jairton
da Don Nunez, do Osmar, eterno amigo, da Madi Correa, da Réco, da Liseglê,
da Silvia, da Silvinha, da Boneca, da Suzana, da Lidiane, da Christiane Hufe,
da Preta, da Jú, de uma churrasqueira que tinha um quadro com um texto meu,
da casa da Rozangela com a rede, de pessoas que me são importantes mas não
as tenho mais visto.
Quero de volta as rodas de samba com Gerson Fisbein, meu atabaque, a praia lotada, o sorriso da moçada, a alegria em ver o sol nascer sóbrio, a casa da Tia Mirthes.
Quero de volta um momento de preguiça na areia de Porto Seguro, em
Cabrália, onde desceu o português mais inteligente do mundo.
Quero de volta um LP do Cat Stevens, onde tinha Father and Son, Wild World,
Sad Lisa e outras músicas excelentes, ouvidas mais de 3 centenas de vezes.
Saudoso, sim. Triste, não.
Quero de volta o ônibus da J.Araújo que me levava e me trazia, às vezes
desolado, às vezes animado, quando me esperavam na rodoviária.
Um rosto que sorria ao descer do ônibus, um abraço sincero recebido
na chegada.
Quero de volta o banco de madeira da casa do Rura, onde conversamos
as vidas dos dois, antes e depois, de lá pra cá e de cá pra lá.
Quero de volta os churrascos das quintas-feiras em Guarapuava, cerveja,
sorrisos, orações à meia-noite que nos permitiam sonhar. Lembrar,
sonhar, lembrar, sonhar, beber, cair, levantar, tudo aquilo.
Quero de volta uma viagem de carro com o Trio Favetti cantando, mãos
se dando, música no ar. Do passeio à meia noite, “mais uma voltinha’”,
mais um pouquinho.
Saudoso, sim.
Com isso, lembra-se de coisas boas, revive-se bons momentos, carrega-se a bateria e vai-se para a frente.
Quem sabe, num futuro próximo, eu queira mais coisas de volta.
Mas como eu disse no início, nem todas voltarão mais.
Ao menos, aconteceram.
Feliz de mim..........
Beleza de texto,Ula Ula:
ResponderExcluirVc. está certo,saudoso,sim,triste não..
Grande abraço.