Tenho tentado, no decorrer dos anos, mostrar para algumas pessoas o que
quer dizer mesa de bar.
Literalmente falando, não há o que explicar.
Mesa de bar, é mesa de bar.
E ponto final.
Não, não é isso.
Quando falo, explico, exemplifico, mostro, conto, ilustro, faço de tudo,
faço tudo para mostrar que mesa de bar é algo fantástico, perfeito, correto, criado pelos homens sábios para que se tenha uma conversa, que se
chore as mágoas, que se lembre de coisas, que se cante baixinho, que
se chore sozinho.
Mesa de bar, para quem me entende, é muito mais do que a base para
um porre de lamento, para um porre de saudade, para um porre de rebeldia.
Mesa de bar não admite desaforo. E nem voz alta.
Jamais bata na mesa, jamais agrida a mesa, jamais quebre a mesa e, nunca, jogue a mesa ou vire a mesa. E não grite. O bar merece respeito.
Alí, na mesa do bar, muitas histórias foram contadas - e ainda o são.
Alí, muitas memórias foram resgatadas, muitos encontros foram selados,
muitos momentos foram vividos. E alguns, do saci-do-cú-da-cobra.......
E como vocês já me conhecem, respeito muito os momentos.
Eu e meu amigo Werner, assim como meus compadres Marco Bassetti e Marco Heller, sabemos muito bem o que quer dizer mesa de bar. Além de outros
amigos que não devo aqui citar.
Mesa de bar é lugar de respeito. E não somos alcóolatras, não.
Respeito por quem vive a mesa, o bar, a noite, o vício de bebericar e falar.
Não somente bebericar, mas sim o de bebericar e falar.
Conversar.
Ouvir, entender, pensar.
E mesmo que não ouça, analisar.
Conheço alguns lugares interessantes na vida, mas todos aqueles que apresentaram uma boa mesa de bar, sempre me marcaram mais.
Mesmo quando eu não bebia o que devia beber, mas mesa de bar é
um lugar neutro, onde um lado invalida o outro, onde um olhar é
igual ao outro, onde a fumaça do cigarro é igual para todos,
se bem que nos dias de hoje, com esta lei ridícula aprovada, fumaça
de cigarro esteja em extinção. Olhares, não.
Com isso, quero somente dizer que nada melhor que prosear em torno
da mesa de um bar.Não precisa ser fino ,nem requintado, mas tem que
ser limpo.
Pode ter a toalha vermelhinha em xadrez com branco, pode ter somente o
jogo americano, pode ter somente a madeira velha e antiga, mas limpa
e pronta para apoiar seu copo. E seu cinzeiro. E sua mão segurando outra.
Prosear em torno da mesa do bar é algo mais gratificante que momentos no analista, por mais que você confie nele. O analista não canta Lupicínio.......
Prosear em torno da mesa do bar, é algo mais sincero que conversa entre duas pessoas na sala da casa de um, ou da outra. Conversas sérias não precisam de poltronas.
Prosear em torno da mesa do bar, é a prova que você não está preocupado
com o mundo ou com alguém, mas vai fundo no papo até o amanhecer.
E se tiver uma musiquinha ao vivo, honesta e bem feita, melhor ainda.
Relógio foi feito para trabalhar e marcar a hora de apanhar filho em escola.
Só.
No bar, jamais olhe para o relógio, mesmo que isto lhe custe uma explicação para alguém que jamais entenderá o que significa mesa de bar.
Mas atenção: me refiro à MESA DE BAR.
Esqueçam as variações onde existem mesas e pessoas se encontram.
Bar é bar. Puteiro é puteiro e balada é balada.
Aquele onde você desliga, sente-se à vontade, fala, ouve, questiona, curte,
canta, vive, não tem pressa e lava a alma.
Com ou sem o pilequinho, mas ciente de que você está agindo decentemente, o que é diferente do que pessoas fazem por aí, inclusive mulheres de fino trato.
Mesa de bar implica, necessariamente, no respeito ao garçom, na cerveja
gelada no ponto, na bebida servida com maestria, no som ambiente perfeito,
na companhia agradável, podendo ser ela, masculina ou feminina.
Se masculina, é alguém do seu coração. E alguém que você confia.
Não se leva inimigo para bebericar em bar. Nunca!
Se feminina, poderá ser alguém do seu coração. Ou candidata a ser.
Aí está a diferença de Baladas para Mesas de Bar.
Balada é uma coisa vazia, onde as pessoas se encontram, falam, ficam, se oferecem, se doam, se entregam, sem fundamento, a não ser o sexo, o ficar,
o prazer de uma noite. Difícil "falar' em baladas. Mas há quem goste.
Mesa de bar é conquista, é flerte das antigas, é papo mais qualificado,
mas não papo chato, pentelho.
É conhecer a pessoa do outro lado, ou ao lado, é saber com quem se
está falando e o que se está ouvindo. Linha de comunicação.
Na balada, a mulher se oferece para fazer uma massagem, já pensando na ejaculação do cara. Não tem linha de comunicação. Efeito do álcool, talvez.
Papo solto, meio louco. Efeito da insegurança, talvez.
Na mesa do bar, a mulher se permite ser descoberta, ser desvendada, ser conhecida pela pessoa que está alí com ela. E só por esta pessoa.
Segredos existem em mesas de bares. Alguns, bem guardados até hoje.
Nas baladas, segredos não existem, pois o comportamento das pessoas é outro.
Às claras, chocante demais.
Mulheres e homens se permitem serem descobertos por quem estiver ao lado, próximo, olhando. Tem gente que transa e não lembra do nome no dia seguinte.
E, às vezes, "santas" agem durante o dia, mas quando chega a noite, viram mulheres com fogo nas cochas, se revelam autênticas caçadoras de prazer.
Sem sequer saber o nome delas. O que importa é o ataque, acompanhado de umas bebidas.
Nada contra. Tem quem goste e se aproveitam.
Apenas para separar o que existe por aí e a mesa do bar.
Bar com B maiúsculo, é uma coisa.
Balada, com b qualquer, é outra.
Papos levados com chopp e stainheger, são uma coisa.
Papos levados em baladas, com smirnoffs ice, cervejas, uísques e barulho,
são outra coisa.
Tem gente e gentes que gostam das duas coisas.
Tem gente que se entende na balada do rock. Na balada geral.
E tem gente que se entende mais e se conhece mais e se gosta mais,
na mesa do bar.
Este mesmo bar que acompanha a vida de brasileiros, boêmios ou não,
mas que simboliza, para todos os que gostam, de que bar é bar.
Chique ou podre, cú sujo ou mais ou menos, na periferia ou na rua da balada, enfim, existem BARES e existe o resto.
Do meu jeito, fico com o BARES.
Eles me revelaram, nestes anos todos, que por aí começa uma coisa séria e, porque não?, quase eterna. Quase.....
E queiramos ou não, confiamos sempre mais em mulheres de mesa de bar
do que mulheres da balada. Podem conferir.......
Pena.
As baladas vieram e ficaram, mas ainda restam bons bares para se viver.
Respeito muito quem gosta de baladas.
Respeito mais quem gosta de bares.
No frigir dos ovos, a vida segue melhor quando começa em mesa de bar.
Pode ser opinião pessoal, errada até, mas até hoje, aos 53 anos, ninguém
me mostrou o contrário.
Aliás, pelo contrário.
Quanto mais vejo baladas e mulheres pertencentes a elas, mais
admiro e quero conviver com mulheres de mesas de bar.
Bar é bar.
A não ser que alguém me prove o contrário.
Sempre sou aberto a provas e aceito quando estou errado.
Mas acho que nesta parada, fico com o bar.
Nem que seja para admitir meu erro, mas admitirei na mesa de um bar.
E de preferência, com Tom Jobim ao fundo e um violão bem tocado na penumbra da arandela com uma lâmpada queimada.
O que não existirá nunca, em baladas.
Como disse um bom amigo: "cada macaco no seu galho" .
Concordo.
O meu, é com galho de bar.
E com macacas confiáveis.
Sempre.
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