O relógio bateu 15 horas.
Ele tomou um belo banho, fez a barba lentamente, passou o Kaiak,
ajeitou a camisa, vestiu o terno azul-marinho com a camisa branca,
deu o nó caprichado na gravata meio vinho com listas e apanhou
seus pertences.
No táxi, olhava a paisagem das ruas tão conhecidas, a caminho de
um grande momento. Era seu casamento. Dia 8 de outubro.
Data escolhida depois de muitas análises sobre datas e meses em que, finalmente, os dois concordaram.
A uma quadra da igreja, achou estranho estar tudo fechado,
nenhum movimento, nada.
Mesmo assim, pagou o táxi, desceu do carro e entrou no pátio.
Embora fosse cedo, ele sabia que era alí que a cerimônia aconteceria.
Mesmo reservada, era alí que ele havia combinado com ela, o juiz,
o pastor e o cantor. Apenas eles. E ele.
Acendeu um cigarro, olhou para o relógio, apalpou o pacotinho das
alianças no bolso e andou de um lado para o outro, fazendo a hora
passar.
Perto do horário marcado, apenas um cachorro saiu de trás da
Igreja e olhou bem fixo para ele.
Pensou em apanhar o celular e ligar para ver se havia acontecido algo, mas decidiu esperar mais um pouco.
Chega o juiz, chega o cantor, chega o pastor.
Um alívio o acompanha ao ver o rosto daquelas pessoas.
Entram no recinto, o cantor repassa o que teria de fazer, o juiz
mostra os papéis em ordem e o pastor vai se preparar para a
cerimônia. O silêncio da casa de Deus, às vezes, assusta.
Ele, nervoso apesar da experiência da idade, fica na porta, como
ficaria o noivo que aguarda a noiva.
Passam 20 minutos da hora marcada e o celular dá sinal de mensagem.
Ele abre, lê calmamente, senta na escadaria da Igreja e fecha o aparelho.
Ao mesmo tempo, vê tudo ir pela escada abaixo.
Não haveria casamento.
A mensagem era clara e direta: desculpa, não consegui. Me perdoe.
Beijo....Fulana.
Ele levanta, entra na igreja, avisa o juiz, o pastor e o cantor, pergunta se há alguma despesa e pelo celular chama outro táxi.
No caminho de volta, tira a gravata, abre o colarinho, acende outro cigarro com autorização do motorista e chega de volta em sua casa.
Deixa a caixinha das alianças no aparador da sala, tira o terno e somente de cuecas, deita no sofá.
Alí ele adormece em silêncio. O porta-retrato ao lado ainda exibia a
foto do sorriso do casal.
Quando acorda, faz as malas, arruma tudo, chama outro táxi e
vai para a rodoviária.
Apanha um ônibus, toma o rumo e segue.
Pra onde, com quem, fazer o quê?
Só ele sabia.
Um novo tempo se iniciava para ele, mas também para ela.
E a experiência do "fora" pela mensagem, iria resultar em uma mudança profunda de vida.
Na sequência conto os detalhes.
Bela história, apesar de iniciar triste desta forma.
Mas vai valer a pena ler.
Capítulos curtos que contarão, desde o início, o porquê do
"fora' na igreja.
E o "fora" na vida.
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