Fim de tarde, liga um amigo para tomar uma(s).
Nada mal, disse eu.
E lá fomos para o bar marcado, alí na Vila Hauer, bar de bar,
daqueles que em Minas, chamam de cú sujo, mas muito agradável.
O amigo é o Juca, pessoa de bem, grande companheiro de muitos anos, considerado o melhor "faz tudo" da cidade.
Juca já foi padeiro, encanador, eletricista, marceneiro, pintor, garçom, enfim, como ele mesmo diz, "um conhecedor de generalidades".
E sentamos naquela mesinha da calçada, cerveja gelada com uma porção
de frango a passarinho, cigarrinho à vontade(pessoal da Secretaria de Saúde não vai na Vila Hauer), pouco movimento na rua do bar do Gentil e
alí ficamos.
Juca começa a fazer sua retrospectiva 2009.
Sensacional. Acompanhem.
Janeiro - verão, temporada de praia. Juca e a família(mulher, 5 filhos, sogro, sogra e empregada), alugam uma casa em Matinhos, pela internet.
Faz o depósito, preparam o Opala Diplomata, despacham a Rosélia(empregada) de ônibus, empilham no Opala a família e seguem viagem para uma temporada de 15 dias. Merecida, segundo ele.
Chegam na praia, a casa era completamente diferente do que estava
na internet, ficam meio decepcionados, mas não era hora de tristeza, então.....
E os 15 dias foram de entortar parafuso grande, segundo ele.
Nada funcionava, o telhado tinha goteiras, a rua alagou 5 vezes, um horror.
Mesmo assim, deu praia, a criançada se divertiu, queimaduras e todos,
a costela saiu na churrasqueira improvisada com tijolos e o sogro bebeu todas, como sempre fazia. E muita cerveja com Velho Barreiro, todos os dias.
Na volta, Juca acabou deixando a casa nova em folha, pois foi arrumando tudo e deixando tudo novo, inclusive comprando peças e equipamentos para que a casa ficasse cada vez mais em ordem. E tanto ficou que a imobiliária devolveu
mil reais para o Juca. Pode? Pode.
Na volta para Curitiba, Opalão ferve na serra, levam 8 horas para chegar a Curitiba, mas valeu.
Fevereiro - nada de excepcional, muito trabalho, o sogro começa a passar mal, vai para as Clínicas, fica internado, descobrem a cirrose. Novidade?
Não. era esperado, pois o velhinho tomava vodka pela manhã, ainda em jejum.
Juca trabalhou feito louco, o celular não parava, mesmo no carnaval.
Março - As crianças(três filhos e duas filhas) vão para a escola, a patroa leva e busca, a vida segue normalmente, com o sogro bebendo tudo o que o Juca comprava para ele bebericar sozinho, mas não adiantava.
Uma bela noite, no feriado de Curitiba, Juca fez uma costela e reuniu alguns amigos para tocar um violãozinho e coisa e tal. Resultado: o porre do sogro estragou a costela, assustou os vizinhos e encerrou a festa.
Abril - A patroa tem um mal estar pela manhã, correria, leva pro postinho e descobre-se, dias depois, que a menopausa está chegando, com calorão e tudo o mais. Juca diminui o ritmo de trabalho, mas corre feito louco, sempre de olho na patroa. Faz tudo por aquela patroa. Belo dia, ele chega em casa por volta das 7 da noite e encontra a patroa só de calcinha e sutiã na sala, se abanando e com as crianças na maior farra na sala. O sogro, dormindo na poltrona da sala e a sogra na cozinha, preparando uma jantinha para todos.
Maio - no dia das mães, a emoção toma conta do Juca, que presenteia a mãe e a esposa com um vestido lindo cada para uma, comprados à vista no centro da cidade. Ele ficou feliz, foram todos almoçar em Santa Felicidade, com o sogro e a sogra junto. Ferve o Opalão na volta, mas tudo bem. As asinhas com alho e óleo valeram o dia. E em maio, Juca teve sua primeira sensação de ficar viúvo, pois a patroa passou mal de tanto que comeu, segundo ele com frango vasando pela orelha e arrotando sem parar até chegarem na Vila Hauer. Ela sentiu-se mal, mas depois de 7 Eno a coisa melhorou.
Junho - Juca faz a festa Junina no quintal de casa, com a criançada vibrando de alegria. Até que o sogro, ao soltar um foguete, estoura uma bomba nas mãos, encerrando a festa e indo todos para o Pronto Socorro do Cajurú.
Resultado: foi-se a mão esquerda, mesmo com a cirurgia.
A bebedeira fez com que o sogro segurasse o foguete na parte de cima,
na boca e ninguém viu.
Julho - O sogro já recuperado, mas sem a mão esquerda, sugere uma viagenzinha para relaxar......Juca prontamente atende, passa na Caixa da Marechal Floriano, saca um troco da poupança e vão para um hotel fazenda, perto da serra da estrada de Ponta Grossa, e levam Rosélia junto.
O Opalão arrastou-se pela estrada, mas chegou.
Chalés separados para todos, uma semana de folga.
O filho mais velho cai do cavalo e machuca o braço.
A filha do meio é picada por um inseto desconhecido e fica com um melão no ombro.
A esposa, mesmo em julho, se abana todas as noites e respira ofegante com a menopausa.
O sogro, bebe tudo o que o hotel da pousada tem e toma dois pileques por dia.
A sogra, prestativa como sempre, fica à beira da lareira fumando seu Luis XV, sem parar.
E Juca se diverte, sempre sorrindo e correndo pra lá e pra cá com a família.
Agosto - Sem saber e sem esperar, Juca recebe uma festa surpresa no dia dos Pais. A família, cunhados, cunhadas, sobrinhos, vizinhos e dois clientes chegam na casa dele para um almoço festivo, todo preparado pela sogra e pela patroa.
O sogro, de camisa nova e tudo, fica no portão recepcionando a todos, com um charuto do terreiro na boca e muita brilhantina no cabelo.
Acena com o toco da mão esquerda e cumprimenta com a mão normal.
Grande festa, macarronada com frangos assados e cebolas na grelha, grande bebedeira, com movimento até as 10 da noite.
Juca fica feliz, toma um pileque com o sogro e, lá pelas 11 da noite, vem o susto.
O sogro levanta na churrasqueira, dá dois passos e cai duro no chão.
Correria, gritos, lágrimas, chama a ambulância, chama a polícia, guarda as garrafas de Velho Barreiro vazias, mas era tarde.
Alí no chão da Churrasqueira o corpo de seu Arlindo estava inerte.
Morria o sogro, totalmente embriagado, como ele mesmo gostava de viver.
Juca ficou abalado, não abriu a boca no velório e fizeram o enterro no
cemitério de São José dos Pinhais, de onde seu Arlindo era natural.
Semanas em silêncio, sogra e filha tristes, netos sempre perguntando
pelo avô e a vida seguiu.
Setembro - Juca faz uma fezinha no bicho na lotérica do seu Adolfo e ganha uma bolada na milhar seca. Raro naqueles dias, mas acontece.
Recebe pontualmente no dia seguinte, pega o Opalão, leva na loja do
Juarez e troca por um Honda Civic usado, mas lindo, novo, perfeito.
Chega em casa e é a maior festa, mesmo que no porta-mala do Civic estejam todas as ferramentas e apetrechos que ele usa para trabalhar no dia a dia.
Sem festa no feriado, em homenagem ao sogro falecido, vão para Morretes passar o dia, mas sem a sogra, que não sai mais de casa e só reza, o dia todo.
Picadas de mosquito, pescaria mal feira, comem e bebem razoavelmente, com a patroa vindo a passar mal vasando barreado pela orelha, segundo ele.
Na volta, o Civic dá um show na estrada e Juca fica feliz.
Outubro - nada de novo, muito trabalho e uma reforma imensa numa casa de uma bacana no Jardim Social. A dona queria tudo urgente, trabalho até dez da noite, todos os dias, recebe metade do pagamento antecipado e um cheque para 30 de outubro. Advinha: sem fundo. Juca estava com o cheque na carteira no dia da cervejinha, agora no final do ano. E gente conhecida.
Novembro - correria, alegria pela aprovação dos filhos na escola, sogra ainda rezando, mulher se abanando, Juca vai no Big da Mariano Torres fazer as compras do mês. No corredor, pega isso pega aquilo e conhece Jurema, uma morena de seus 40 anos, ajeitada segundo ele, perfeita, gostosona e com um decote que mostrava quase o umbigo. Ela dá trela, Juca se pega no papo, trocam telefones e começa a bagunça. Naquela noite, Juca liga, marca e encontra Jurema alí na lanchonete do Verde Batel, que ele não conhecia.
Ela entra no carro dele e começa a festa. No carro mesmo, uma "bombada" de primeira, com Jurema deixando Juca maluco. Ele queria ir para o motel, mas ela disse que não, pois tinha que estar em casa antes das 11, por causa do marido.
Dezembro - correria, presentes, preparação para a festa de natal e Juca correndo com a família e com Jurema, a morena do outro mundo. Na Big Ben, comprou um anel para ela, "coisaa linda Costinha"!
E na mesa do boteco, Juca era um homem feliz.
Corre feito louco, trabalha feito um maluco, não deixa faltar nada em casa, cuida de todos e de tudo, educa os filhos com rigidez e agora, a novidade: está apaixonado pela Jurema, mas não deixa a família dele.
E ela é casada, donde......
Bela retrospectiva, onde cortei uma série de coisas, mas mesmo assim ficou longa.
Juca, grande companheiro, nobre amigo, agora vai viver a vida com a amante e a família. No Civic, CDs de pagode e um do Altemar Dutra, que a Jurema mais gosta.
Me perguntou o que que eu achava da situação.
Eu, somente olhei para ele e disse:
pede mais uma cerveja que isto é história para outro encontro.....
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