PERDEMOS O DITO

No início da noite de ontem, perdemos o DITO.
Companheiro de canções, noites, boemias, papos, Dito nos deixou em consequência de um enfarte e suas complicações.
Fez de tudo na vida: de peão de trecho a violonista de primeira linha.
Aprendeu a tocar violão sozinho, aperfeiçoou técnicas, criou arranjos, fabricou violões, cavaquinhos, tirou até o último som que a nota permitia.
E sempre afinado.
Dito foi uma pessoa companheira, extremamente correta, amigo, orientador.
Com seus ditados formados pela vida, sempre tinha uma palavra amiga para dirigir a quem quisesse ouvir. E dirigia. Na veia, certeira.
O Dito do Kapelle, onde o som de seu violão embalava madrugadas no bar da Mara. O Dito do Bar do Nilo, em companhia do Joãozinho e mais uma centena de músicos.
O Dito de Guarapuava, fiel e leal companheiro do Rura, não só no Van Gogh, mas onde quer que o Rura fosse tocar e cantar.
O Dito da Itália, pra onde viajou e de lá ligava para a família dizendo que estva em Campo Mourão.
O Dito do toque sutil, da MPB descoberta nas cordas do violão afinado, bem tratado, bem tocado.
Dito nos deixa, mas deixa também uma mala de ensinamentos e posições.
Homem de paz, jamais ergueu a voz para o que quer que fosse.
Homem de bem, sempre dirigiu sua preocupação maior para os filhos, que já se encaminharam na vida.
Homem amigo, sempre preparava um café nas tardes de Guarapuava para sentar no banco de madeira e ouvir histórias, para depois contar as dele.
E foram tantas.
Devagar, aqui mesmo, retratarei algumas histórias do Dito.
Calam os violões na data de hoje. Nenhuma corda será tocada.
Em respeito ao seu mestre maior. O Mestre Dito.
Descanse em paz, amigo Dito.
E que seja este, o último texto que escrevo pela perda de alguém.
Ao menos sabemos que se Deus te levou, foi porque ele estava sentindo falta de alguém que tocasse um violão como você.
Afinal, Baden, Toquinho e Yamandu ainda estão por aqui.
Abraço, meu bom amigo.