Talvez, em meio ao tumulto do apagão, muitas pessoas tenham feito
aquilo que se deveria fazer: ficar queito em casa e ouvir os sons da escuridão.
Algumas velas foram acesas, algumas lanternas foram apanhadas, mas no geral, o silêncio da escuridão, lá pelas onze da noite, permitiu a muitos brasileiros, exercer o livre pensamento, aquele que é acompanhado pela sabedoria da calmaria e que permite devaneios e conclusões a respeito de uma série de coisas.
E numa dessas análises, ela respensou a vida dela. Para qualquer lado que olhasse, o escuro fazia parte de sua visão. O mesmo escuro que tem lhe acompanhado no dia a dia.
E para qualquer ponto de luz que procurasse, o visual era o mesmo: nada.
Assim como seus dias passam com luminosidade insuficiente, mas ela leva em frente.
E ele, no silêncio daquele sofá da sala, sem som, sem luz, sem nada, também aproveitou para ver um ponto de saída.
A mesma escuridão lhe dominava.
A mesma incerteza quanto ao ponto de luz que apareceria.
Mas também ia em frente.
E quando voltou a luz, lá pelas duas da manhã, ele no canto dele e ela no canto dela, reassumiram seus papéis de independentes e vitoriosos e seguiram suas vidas.
Com luz, tudo é mais fácil.
Inclusive, maquiar a realidade.
No escuro, o que é, é.
Apagão sempre serve par alguma coisa.
Nem que seja para relembrar certos momentos iluminados do passado.
Foi isto que os dois fizeram.
Sem medo do escuro, mas com esperança enorme de que a luz voltasse logo, antes que o celular fosse acionado.
Aí sim, o apagão aconteceria.
De fato.
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