Pelo visto, lá vem tudo de novo.
A partir de 6a.feira à noite, com todo o direito, o povo vai pra praia, com merecimento,
com improviso, com direito à barraca na orla e som no último volume, com o novo
sucesso do Daniel ou da dupla Zé Rico e Milionário, ou afins.
Vai ser o desfile de bebedeiras, porres, vômitos nas calçadas, garrafas quebradas,
jacuzada se afogando, bombeiro correndo e nadando, sogra cuidando de neto, a mãe fresca passando Sundown até no c.....biquini novo da Marisa em promoção, enfim, uma festa que
já virou tradição nas praias do Paraná.
E não só do Paraná.
Lá vem famílias inteiras hospedadas naquela casa alugada, que na internet era a uma
quadra do mar, mas que na realidade, está seis quadras pra trás.
Não tem problema.
O cunhado prepara o fogo, o irmão da manicure foi junto, ajuda a fazer o churrasco e começa derrubando o filé no chão, cheio de areia, pois foi melhor segurar o balde de gelo com
caipirinha que a carne que seria servida de aperitivo.
A dona da casa e comandante da excursão fala alto, grita, lava a louça do café, chama os filhos pequenos pra acordar, dá para ouvir na praia os gritos da chefona, mãe profissional e
a melhor vizinha do bairro.
Eleitora do Luis Carlos Martins, não perde um programa da Banda B, assiste todos
os domingos o Gugu e agora, comandando a tropa, foi pra praia. No corpo, um maiô da Menilmontant que ela ganhou no natal de 1994, mas que está lindinho.....
O marido não abre a boca, das 10 da manhã à meia noite ele beberica uma garrafa de 51 e não sobra nada.
Só olha, pisca o olho esquerdo sem parar, fuma feito um doido, elogia as menininhas
que passam na calçada, não vai à praia, diz galanteios para a empregada que foi junto,
deixa o rádio ligado pra saber notícias do Parmeira, tem esperança que o Coxa volte
pra primeira divisão, coça a barriga, senta na cadeirinha de praia e alí passa o dia.
O irmão da cunhada da manicure é alegre, puxa o violão, solta a voz meio fora do tom,
canta tudo do Bruno e Marrone, sabe todas as letras sertanejas, usa um chapéu que ganhou
na Woods, camiseta do Rodeio de São Luis do Purunã, cigarro aceso no canto da boca, barba crescida de 5 dias, banho, só de mar, aquelas coisas.
E o sobradinho bombando.
Na praia, levam frango assado em pedacinhos (melhor que Nuggets), cerveja Kaiser no Isopor enorme, quibe frito pela manhã antes de saírem para a praia principal, Nescau pronto em garrafinhas de água, água mineral com um pouco de areia, toalhinha de rosto para as crianças, nenhum saco de lixo (pra quê??), cadeiras costuradas, mas úteis, uma festa.
Lá vai a turma.
E à noite, cantoria e linguiçada para animar a caravana da vizinha boa, que do alto de
seus 123 quilos, anima qualquer quarteirão.
Ainda de maiô, ela deita no sofá e tira uma soneca, mesmo com o cachorrinho pintcher latindo
na casa, a filha berrando que não acha a piranha para o cabelo, a outra amiga, esta sim, piranha, fica no muro olhando quem passa de carro, pisca para o marido da gorda, já de porre.
Uma festa que se repete todo o ano, incluindo o Opalão que vai ferver na volta da serra, depois de 8 horas de estrada, com alguns vomitando pela janela e outros dormindo no porta-malas.
Pisca pisca estragado, mas o Opalão tá lá.
A manicure enjoada pelo porre de tequila da noite anterior, a piranha desolada pois só transou duas vezes, a vizinha-chefa triste porque acabou a festa.
Na serra, descobrem que o Dinho ficou na praia, o caçula de oito anos.
Volta pra praia para pegar o Dinho, que está lá sentadinho na beira da porta, esperando que alguém abrisse para ele entrar.
E viva a festa.
Carnaval é isso.
Uns trocos daqui e outros dalí e a turma se anima.
Na quinta-feira após o carnaval, as praias mais parecem um Iraque no intervalo dos bombardeios, o povo que lá mora não acredita que tudo passou, o Tsumani é pinto perto
da invasão da turma da alegria.
E depois do dia 18 de fevereiro, é começar a fazer planos para ver a Copa do Mundo, pela
"Grobo", com o Garvão.....
E na tarde do dia 19, a manicure já solta a língua no salão, fala mal de todos que
estavam na casa, reclama da piranha que encontrou um gatinho que ela estava de olho,
critica a gorda comandante que só ela mandava, fala mal da comida e da merda do chuveiro Lorenzetti de 1962.....
É sempre assim.
E em 2011 não vai mudar nada.
Não muda porque as pessoas assim se divertem e cada qual do seu jeito.
E você que queria descansar no carnaval na sua casa de praia, mesmo que alugada, esqueça.
Melhor ir para um Spa ou um hotel fazenda, que apesar dos mosquitos, ainda tem traços de civilização.....
Bom carnaval a todos.
hahahahahahaha
ResponderExcluirDemais Costa, demais.
É impressionante como as imagens do que estava escrito surgiram na minha cabeça.
Sensacional!!
Abraço e Bom Carnaval!
Meu amigo Costa! Realizei a cena em detalhes sórdidos. Fico feliz de ficar em casa e poupar minha sáude física e, principalmente, mental dessa "Visão do Inferno".
ResponderExcluirUm dia precisa ir à minha Itararé e ver essa visão do litoral, mas no Rio da Vaca. Tem até tiozinho nandando de zorba bordeaux (aquelas com divisão frontal)e no braço esquerdo, sempre reluzente, aquele Orient(o) de fundo verde e pedras de rubi.
Esse conto animou meu carnaval.
Grande abraço!
Galo Véio.