Aí o telefone toca, a voz do outro lado se apresenta, diz que fui muito bem indicado,
solicita uma reunião para uma troca de ideias e uma possível parceria de trabalho.
Digo que vou, sempre vou, marcamos hora e me preparo.
Levanto informações sobre o cliente, fala com um, com outro, pesquisa a vida publicitária
do cliente e ficamos meio prontos para ir. Vida publicitária, zero. Vida pessoal, alguma coisa.
Me arrepia quando um cliente fala em "parceria", pois já cheira choro no custo, na criação,
no fee mensal que você pode sugerir.
A vida ensina certas expressões que devem ser evitadas, pelos dois lados.
Mas só o nosso lado aprende.
Cliente que é cliente, sempre vai chorar, negociar, reduzir seu custo mas lhe exigir o máximo.
E nós, ao exigirmos nosso custo real, verdadeiro e justo, às vezes somos taxados de mercenários.
Mas o mercado é assim e assim será por mais alguns anos.
Claro que existem exceções de clientes e de profissionais de propaganda, mas na média, é
por aí.
Chego no cliente, hora marcada, belo escritório, bela recepcionista, foto do cliente tipo poster de cinema, nome dele estampado em letras de alumínio, garrafais para o espaço, música ambiente tipo gospell, já senti onde fui parar.
A agradável recepcionista me pede que aguarde só um minutinho, me oferece café, água,
sorriso, sensualidade, coisa e tal.
Aceito a água e passo a mão numa revista no canto da mesinha lateral: Deus é seu amigo, dizia
o título.
Passam 20 minutos, minha tolerância diz que tá na hora de ir embora, digo pra secretária que ela avise seu chefe que esperei vinte minutos para uma hora marcada por ele, mas estou indo embora e se ele precisar, aqui está meu cartão para agendar outro horário.
Ela diz que não entende, o financeiro estava lá dentro e não iria demorar.
Vou embora e duas horas depois me liga o cidadão, todo cheio de prosa, desculpas e tudo o mais que se fala numa situação dessas.
Me pede que vá imediatamente para lá, digo que não posso, tenho outro compromisso agendado, mas que no dia seguinte, após o almoço, eu poderia ir ao encontro dele.
Ele diz que está bem, agenda 14:30, pontualmente.
No dia seguinte, chego às 14:30 em ponto, sento-me na mesma poltrona, a recepcionista está
mais agradável que no dia anterior e espero por 20 minutos.
Brincadeira tem hora, como diziam meus professores de antigamente.
Levanto-me, me despeço da agradabilíssima e vou embora.
Tem gente que se acha mesmo.....
E não são só clientes ou prospects.
Tem diretora de faculdade que deixa o professor esperando 4 horas e meia para receber um cheque de salário, na véspera do natal.
O cidadão me liga novamente, tenta agendar, se desculpar, diz que precisava demais falar comigo, e eu, educadamente, agradeço a gentileza e digo que não poderei atender seu pedido.
Ele fala, explica e diz o que precisa: uma campanha para a igreja dele, pois ele estava sendo promovido a pastor e precisava angariar mais fiéis.
Diz que em função da conquista de fiéis eu teria uma comissão sobre quem fosse novo a partir da data da campanha. Digo que não posso, mesmo ,mas o cidadão insiste.
Ele sobe o tom, pede para que eu vá naquele momento mesmo, digo que não irei, mas poderia indicar outro profissional à altura para atendê-lo.
Ele diz que quer meu trabalho, a comissão é boa, o trabalho é de parceira e eu desligo o telefone.
Caiu a linha.
Quando o outro lado não entende, melhor "cair a linha".
Parceria fiz até os 30 anos.
Hoje, não mais.
Trabalho é trabalho, tem custos e normas.
Princípios éticos e lógica.
Propaganda não é pastelaria e nem profissão de risco.
Ou você sabe e entende, ou não se meta.
Tanto para clientes quando para profissionais.
Parceria?
Aos 53 do segundo tempo, não tenho mais estômago para isso.
E o pastor vai se virar, não tenha dúvida.
Ainda mais quando ele trocou o verbo do tempo futuro pelo pretérito.
Aí foi de matar.
Mas assim é a vida da gente.
Tem de tudo.
Ainda bem.
é isso ahi Costa, 20 minutos é mto tempo p/hora marcada, um grande abraço zico garcez.
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