Ainda mantenho, apesar dos protestos, o hábito de ler jornais diariamente. Ao vivo, no papel, ou na internet. E vez por outra, dou uma passada no obituário, pois passando dos cincoenta anos, melhor acompanhar o andar da carroagem, que para alguns está indo mais rápido. E o que assusta, é ver gente de 19, 25, 16, 08, 40 anos falecendo, diariamente. Não se apresenta a causa mortis, apenas o nome e a idade do falecido, local do velório e enterro. Mas o que choca, é ver gente moça morrendo, não se sabe bem do quê, nem porquê, mas gente nova, que deveria dar continuidade à história do mundo, abandonando a cena diária. Triste, antes de tudo. Se bem que o árabe diz "maktub": está escrito. Muito rude a teoria, embora correta. Segundo o maktub, ao nascer a linha da vida já está traçada e a pessoa não escapa do seu destino. Mais triste ainda, ver crianças e jovens envolvidos com o obituário de jornais. Penso em não mais fazer leitura destas páginas, mas quando não se faz, sabe-se que Fulano faleceu depois de uma semana. E Fulano era amigo, conhecido. Não tanto para ir ao velório, pois não me sinto muito bem, mas sim para dar apoio a quem fica. Pensando bem, após escrever este textinho, melhor não ler mais o obituário. Entristece e revolta. Revolta porque a gente vê gente de bem morrendo, enquanto por aí existem centenas de bandidos soltos e armados, com o único desejo de fazer o mal.
Assim segue nossa vida, nos envolvendo nos acontecimentos do dia a dia, nos prendendo atenções para determinados assuntos e nos permitindo ver que tem gente partindo. A fila anda, me disse amigo de longa data. Mas podia andar mais devagar e sem sofrimento para quem está participando dela.
Quando vejo que um idoso com mais de 90 anos faleceu, também me entristeço, mas já sabendo que uma vida completa foi vivida, se bem que ninguém aceita partir. Ainda tinha mais para ser feito.
Mas quando vejo que um jovem de 12 anos faleceu, me pergunto, me questiono, olho para o céu em busca de uma resposta, mas nada me ocorre como resposta. Aceitar, é o que cabe.
Aliás, não só o assunto do obituário nos cabe aceitar, como tantos outros.
Podemos questionar e ser questionados, mas também somos obrigados a aceitar um monte de coisas.
Algumas por serem normas de convivência na sociedade e outras por serem impostas e inatingíveis contra qualquer ação possível.
Vou deixar de ler o obituário por um tempo.
O dia a dia já anda complicado e difícil. Melhor não ser atingido por mais dores.
Vamos em frente.
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