Nunca abri um computador e nem pretendo entender como funcionam estas coisas doidas, companheiras de nossos dias.
Não sei como rodam aplicativos, mas sei que funcionam. E por funcionarem, escrevemos, conectamos, falamos com o mundo, conhecemos parte do mundo, nos envolvemos com pessoas, trabalhamos, vivemos, sonhamos e sofremos.
Prefiro administrar minha cabeça, que está organizada e sei onde fica cada gaveta e seus conteúdos.
Rodo os aplicativos de acordo com o momento que vivo, seja trabalhando, escrevendo, pensando ou apenas, sonhando.
Nosso cérebro é algo de fantástico, impressionante, até.
Alí naquele lado direito, na parte superior, na gaveta 12, estão os vídeos vividos, imagens arquivadas, em alta o baixa definição, mas estão todas lá.
Em ordem de acontecimento e não alfabética, mas estão lá.
Da infância nos mares de Guaratuba, da calçada na Panificadora de Paranaguá, da rua Riachuelo e a bicicleta de entregar pão, das pensões de estudantes que recebiam centenas de jovens do interior.
Não arquivamos nada em ordem alfabética, mas sim pela ordem de acontecimentos. E reparem: nossa memória é algo de muito rápido.
Às vezes nos apronta alguma coisa, falhando a conexão de alguma cabo, mas depois vem, se mostra, traduz e apresenta.
Na gaveta 15, quase vazia, momentos vividos de tensão, de um passado que já foi, acabou, mas que deixou cenas arquivadas.
Na gaveta 2, as emoções de três partos normais, três filhos sensacionais que Deus me presenteou e eu consegui educar, em parte, pois não são mais crianças, embora para mim, serão sempre "as crianças".
Na gaveta 3, emoções de praia, temporadas animadas, momentos de silêncio, sons de ondas e areias diferentes que se misturavam a gotas de suor.
E assim em todas as gavetas, desde a didática e que me permite trabalhar, até aquela de número 55, que reúne arquivos realmente parados, sem rodar e sem mostrar o que contém.
Todos nós temos a gaveta 55.
Uma espécie de arquivo que não mexemos, mas está lá.
Se quisermos ir fundo, está lá.
Melhor, deixe.
Viram como é mais fácil administrar gavetas de nossas cabeças?
Imagine mexer na memória de computadores poderosos. Daria merda, com certeza.
E sentado no meio fio da rua gostosa, perto da meia noite de uma noite tranquila, rodo os aplicativos.
Sons, imagens, cenas, paz.
Aí descubro que dá para arquivar a paz.
Viver com ela, mas quando ela ameaça ir embora, abrir a gaveta e retirar um pouco.
Assim como a caixinha de calma, que compra-se por aí.
E com estes dois componentes, a vida corre melhor.
Paz e calma. Uma coisa diretamente ligada à outra.
E com elas, vivemos de forma mais gratificante.
Mesmo em silêncio, mas com paz e com calma, viram-se as folhinhas de um calendário que insiste em passar mais rapidamente.
Nossa época de crianças e fedelhos nos mostrou como era bom curtir a vida. Um ano demorava, de fato, um ano para passar.
Hoje, um ano passa em 10 meses.
Nas férias o mês de julho demorava para passar e as de verão, eram a marcação de mudança e crescimento. De um ano para o outro.
Hoje, as férias de julho praticamente não existem e as de verão acabam se misturando ao dia a dia.
Erro nosso.
Rodemos os aplicativos, mas vivamos com isso.
Vivamos de forma positiva, tranquila e feliz.
Em nossas cabeças, não se trocam placas. Apenas arrumam-se os aplicativos.
Ainda bem.
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