QUE BOM TER VOCÊ AQUI

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quinta-feira, 15 de julho de 2010

CUCA

Sempre à noite, raramente de dia.
Era sempre assim que encontrávamos a figura, acompanhada de um pandeiro, uma carteira de cigarros e um sorriso aberto no rosto, mesmo em momento difíceis que a vida lhe reservou.
Companheiro, solícito, boemio, conhecedor das artimanhas da noite, boa praça, memória de elefante para letras e tons musicais.
Vez em quando, uma pinguinha para amansar a voz, potente e firme, certeira e bem empostada, fosse qual fosse a música.
Nos livretos, letras e mais letras que ele já as sabia por inteiro.
Músicas novas e agradáveis, MPB somente, ele sabia todas.
Foi assim por onde passou: Bar do Nilo da Mateus Leme, Bar do Nilo de hoje, Ponta de Costela na Rua da Glória, Vila das Artes, no alto da Itupava, almoços especiais, jantares especiais, velórios. Isso mesmo: até em velório ele cantou, prestando homenagem ao falecido, somente com voz e pandeiro, num terno meio apertado, mas presente. O falecido era Anibal Curi e ele cantou "A noite do meu bem" quando o caixão baixava à sepultura.
No Costelinha, da Mateus Leme, grande momentos, belas noitadas.
Mandávamos uma, duas três cervejas para ele e ele agradecia, sempre.
Sentado com a gente, conversava, entendia, falava de boemia, de amores de ontem e de hoje, conquistas e marcas que carregava com ele, sempre relacionadas ao sentimento.
Declamava versos de músicas como quem fala com conhecimento, com a voz suave e sempre chamando atenção para este ou aquele pedaço da letra.
Me olhava de longe e cantava "Malandro', colocando meu nome na frase da música.
Brindava os clientes com suas prediletas, as dele e as dos clientes e sempre fazia a festa.
Somente ele, a voz e o pandeiro.
Microfone, pra quê???
Sempre à noite, raramente de dia.
Era assim que convivíamos com o CUCA, que um câncer pegou de jeito e levou.
Difícil dizer se ele foi para o céu, mas Deus também era boemio e gostava de uma boa música.
Pode ser.
Mas esteja onde estiver, estará com nossa lembrança e nossa amizade eterna.
E como aprendemos com ele, "não chore ainda não, que eu tenho uma canção".......
Descanse, grande Cuca.

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