A cidade ainda estava quieta.
O jogo iniciaria somente às três da tarde.
O relógio marcava meio dia.
Hora mais do que certa para ir onde ele sabia que queria ir. O bar.
O mesmo bar de sempre, companheiro e amigo.
Lentamente, a pé, ele foi e pitou um cigarrinho no caminho.
No bar, devido à nova lei, não poderia mais fumar, a não ser que fosse na calçada.
Em lá chegando, um oi para o garçom amigo de sempre, um abraço no dono do bar, a mesma mesa esperando por ele, de frente para a TV LCD de 50 polegadas.
Acomodou-se, pediu a primeira cerveja, uma porçãozinha de pastéis, assistiu ao noticiário da hora do almoço e saboreou aquele momento de "tudo OK", tudo nos conformes, tudo pronto.
O jogo seria decisivo, mas tanto fazia se ganhasse ou não.
Naquela mesa daquele bar ele iria, mais uma vez, assistir uma partida de futebol, que casualmente, era da seleção brasileira.
Uma, duas, três cervejas geladas, foi para a calçada, pitou um cigarrinho e já começava a sentir a vibração das ruas, carros indo e vindo, buzinas, bandeiras, vuvuzelas improvisadas fazendo o barulho de sempre.
Voltou para mesa, sentou, olhou para a Tv, agora com o volume mais acentuado, comentários iniciais da partida que poderia classificar o Brasil para mais uma etapa daquela merda de copa que não acabava nunca.
Coçou os cabelos, ajeitou o colarinho, mudou a marca da cerveja e pediu mais uma porção de mignon no palito.
O bar já começava a encher, pessoal de sempre, algumas caras novas.
Um pai que levou o filho de 10 anos e ele criticou. Aquilo não era lugar para o menino ver o jogo. Mas viu.
E ele, no final do primeiro tempo, já havia tomado 18 long necks, pacientemente e sorrindo para quem olhasse para sua mesa.
Um stangheger para acompanhar e manter a tradição.
Sozinho, em paz, meio dormente, mas prestando atenção no jogo, que já mostrava superioridade brasileira no placar.
Termina a partida, dois cigarros apenas, um em cada tempo, várias cervejas, pessoas sorrindo e cantando, bebedeira quase geral.
Ele alí, firme e sentado, apenas sentindo que estava meio balão, mas certo de suas diretrizes.
Quando olhou para o relógio, marcava meia noite.
Completava 12 horas de bar.
Perdera a conta das long necks e dos petiscos.Nem lembrava dos stanghegers.
Terminara a carteira do cigarro e ele não se incomodara com isso.
Chamou o garçom, pediu a conta, pagou e nem se lembra quanto, caminhou pela calçada, apanhou um táxi na praça alí perto e foi para casa.
Não trocou nenhuma palavra com ninguém, chegou no apartamento e sentou no sofá macio da sala ainda mal arrumada.
Jogou os sapatos para longe, espreguiçou-se e deitou no sofá.
Dalí a pouco iria começar o jornal da meia noite e ele assistiria, como em todas as noites.
Dormiu, roncou, descansou.
Ao acordar lá pelas seis e meia, morria de frio e foi para a cama.
De roupa e tudo, suado, cheirando nicotina e cerveja, deitou-se e dormiu de novo.
Amanhã seria outro dia.
E o bar continuaria alí, esperando por ele, como sempre.
Na cabeça, nenhuma preocupação, no banco um saldo enorme, na carteira nenhuma fotografia, na memória nenhuma lembrança.
Tudo vazio e liberado para a dormência de todos os dias provocada pela cerveja.
Que vida boa, dizia ele.
Beber e dormir.
Sonhar, jamais.
Pensar, pouco menos.
E tomara que tivesse jogo todo o dia para ver gente diferente na mesa daquele bar.
Aquele mesmo bar que viu seu sorriso enterrado anos atrás e que via sua derrota no presente.
Um jogo, um bar, uma mesa e pronto.
Assim era a vida de quem um dia, sorriu, viveu, lutou, conquistou, sonhou e amou.
Agora, nada mais interessava.
E enquanto houvesse cerveja gelada e um garçom amigo, a vida seguiria na boa.
Ao menos para ele.
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