Aquele friozinho da manhã era tradicional e sempre presente.
Nem sempre o que é tradicional está e se faz presente.
Mas aquele friozinho fazia parte de nossas vidas, naquela época inesquecível do colégio.
Aulas pontualmente às sete horas, todos de pé, claro.
Sinal da cruz e tínhamos início a uma série de cinco aulas intercaladas
pelo recreio às 09:40.
E no recreio, começamos a deixar para trás as brincadeiras do ginásio e começamos a prestar atenção nas meninas novas que iluminavam os corredores e as salas de aula.
Isto, era pelos idos de 1971.
No primeiro ano do científico(como se chamava antigamente), lotávamos três salas. Uma só de alunos e as outras duas, com meninas no ambiente.
Os padres diziam que o Io. Científico só de homens era a sala dos maus elementos. Embora eu tenha feito parte desta, não concordo com esta discriminação. Mas agora, concorde ou não, já provamos que não éramos – e não somos – maus elementos.
E as aulas eram, todos os dias, cheias de novidades.
Professores exigentes e profissionais, capazes e cheios de razão, mantinham a disciplina em primeiro plano. Acho que é por isso que conseguimos educar razoavelmente bem nossos filhos.
Qualquer deslize comportamental dentro da sala, exclusão na hora.
Jayme Costa e eu fomos os campeões de 1971, se bem que encontramos nosso amigo César Baggio, que não ficava muito atrás de nós e era repetente.
Rafael Greca, nosso amigo desde o primário, nos intervalos de aulas e no recreio, já lia a Bíblia e já decorava as histórias sacras.
As meninas, com saiotes acima do joelho, tentavam de todas as formas não mostrar as dobras na cintura, para encurtar ainda mais as saias.
Mas eram recatadas, apesar das tentativas.
Amigo nosso que tinha irmã no colégio, merecia o respeito antecipado de nossa parte. Ninguém se aproximava, a não ser os mais corajosos.
Namorar irmã de amigo era raro, mas acontecia.
As meninas, nestes tempos, eram completamente diferentes das meninas de hoje, com seus 15 anos bem preparados em festas de debutantes e bailes no Concórdia.
Nós, em fila, esperávamos ser convidados todas as semanas para festas em casas ou em clubes, ao som da Party Box 2 e com nossos ternos Club Um, feitos no Fernandes Alfaiate ou comprados no Magazin Avenida ou na Beleve. Era o bom tempo da luz negra e da luz estroboscópica, que ficava muito legal com o Gin Tônica.
E quando íamos a festas, corria um clima legal entre olhares, comprometimentos e alguns namoros que se iniciavam.
Alguns duravam certo tempo, outros acabavam logo e raros iam por mais tempo.
Ao som de Iron Butterfly e Tim Maia, Tin Tin, James Taylor e Jack Jones curtíamos as festinhas até algumas horas da madrugada.
Em uma ocasião, o pai da Maria Regina Migliari e de nosso saudoso amigo Totonho Migliari, nos tirou da festa de 15 anos da Bebê Paula Soares e nos levou para casa.
Passados alguns minutos, voltamos todos para a festa e de lá saímos somente com o dia clareando para tomar café com pão de minuto na panificadora de meu pai, na saudosa Rua Riachuelo.
E um detalhe importante: neste tempo, não bebíamos.
Não era comum tomar porres, dar vexames, passar mal.
Só depois de alguns anos que começamos a nos dar bem como lado alcoólico da situação.
Cuba Libre, Hi Fi, Piper e raramente, uísque.
No colégio, as amizades floresciam e se fortificavam.
Tanto é verdade que algumas duram até hoje e na maior sinceridade entre homens e mulheres.
Raro, mas real e gostoso.
Chico Puppi era mestre em abrir cofres e carros. Mão mágica. Mas abria.
Um dia, Padre Paulo(o homem da mão de ferro), levou alunos para um velório. A quando foi abrir o carro, todos já estavam sentados, dentro do carro e sorrindo. Chico havia aberto o carro dele. E ele, até hoje, quer saber como.
Já nos idos de 72, misturávamos festas de 15 anos com o Sírio Libanês, a melhor boate da época – e uma das poucas.
O porteiro era o Augusto, que deveria ser o pai do Hulk, tamanho era o tamanho do cara. Mas era amigo nosso. A mão do Augusto equivalia a uma patada de puro sangue, bem dada. Poucos de nós experimentaram.
E estes tempos nos geram saudades.
Uma adolescência cercada de novidades, como deve ser, mas cercada de respeito e educação, mesmo na marra. Nosso pais tinham outra postura e sabiam dizer não. Nosso mestres tinham postura e sabiam como agir. Parece que éramos óbvios em nossas atitudes, mas eles evoluíram conosco. E nós, muito mais com eles.
Saudades boas, alegres, gostosas de sentir e abrir um leve sorriso acompanhando imagens, músicas e perfumes que marcaram.
Bons tempos.
Torço para que hoje, a gurizada de 15 a 18 anos viva um pouco do que vivemos. Mas pelo que vejo, está cada vez mais difícil.
Eles estão influenciados por companheiros que não existiam no nosso tempo.
O tal do crack, a tal da coca e o tal do alcoolismo já aos 16, 17 anos. A tal de internet e o tal do celular. Quem dera.....
Hoje bebemos com maestria, até por ter aprendido vagarosamente.
Eles começam pelo nosso fim.
Com certeza, uma pena.
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