Janeiro é um mês de recordações.
Tantos e mais tantos passamos por aqui sozinhos, enquanto as famílias ficavam nas praias
e nós, trabalhadores, íamos somente às sextas-feiras.
Mas, em meio a tantas coisas que aconteciam, sempre havia um momento raro, especial,
particular, só nosso.
Não, não é nada disso que já pensaram.
Íamos jantar um bom churrasco no Fumacinha, da vila Fanny, bebíamos o Oceano Índico e
seguíamos para o Bar do Nilo, ainda na Mateus Leme.
Como era dia de semana, o movimento era pequeno, mas sempre tinha por lá um ou outro que gostava da boemia e da bebidinha gelada, além da música de excelente qualidade, claro.
Uma bela noite, sobramos eu e meu compadre Marco Heller. A turma caiu cedo,
preparando-se para o final de semana na praia e foram todos para casa.
Marco e eu tomamos o rumo do Bar do Nilo, bem balões, mas ainda conscientes.
Em lá chegando, pouca gente, meia luz, música ao fundo e mesinha de pista, como sempre.
Chopp gelado, cinzeiro do grande e chega a Leninha, na época casada com o Nilo.
Amiga de todas as horas, cantora, mãe, empresária, mulher dedicada e batalhadora, Leninha sentou-se conosco e começou a bater papo.
Entre respostas e perguntas, convenci Leninha a cantar novamente, embora ela não
quisesse mais, pois estava cansada e ia dormir.
Insisti, pedi, falei que era um alento para nós podermos ouví-la.
Ela saiu, subiu e desceu.
Na volta, um caderno em suas mãos.
Sentou-se no chão do palquinho que havia no Bar do Nilo, Mosquito ao violão.
Ela pediu um tom e começou a cantar.
Suave, meiga, tranquila, pianinho.
Só Roberto Carlos.
Folha após folha do caderno escrito com caneta azul, ela dedilhou a voz, enquanto Mosquito estraçalhava o violão, no bom sentido, claro.
Leninha fez daquela noite uma noite inesquecível, onde a madrugada chegou mas
não avisou e o chopp desceu como se fosse um remédio.
Ao cantar Outra Vez, a música da Isolda, Leninha fechou os olhos e eu também.
"Das lembranças que eu trago na vida, você é a saudade que eu gosto de ter...."
E foi por aí.
"Garoto maroto travesso..." e mais outras. E quantas....Mas só Roberto era o menu....
Músicas, sentimentos, mensagens, momentos que não se repetem mais, embora a
guerreira Leninha esteja pela cidade e ainda cante.
Mas um momento como aquele, naquele ambiente, naquele dia, naquela hora, só aquele mesmo.
Uma madrugada alimentada pela voz de Leninha. Uma voz alimentada pelo sentimento, além
do talento que acompanha a moça.
E o chopp, embora tirado com maestria, nem fez efeito.
Acho eu.....
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